Em entrevista ao CB.Poder, o deputado federal critica decisão de comprometer verbas da educação e da saúde para versão preliminar da proposta que viabiliza nova rodada de auxílio emergencial

O deputado reiterou que, no fundo, o governo está dizendo que para pagar o auxílio emergencial, vai ter que tirar dinheiro dos hospitais públicos e das escolas públicas. “Mas sabemos que existem outras soluções, o governo só conseguiu encontrar uma solução para conseguir recursos para pagar o auxílio emergencial tirando o dinheiro dos pobres. E isso deixou a gente muito preocupado”, comentou.
Ele explicou que uma das grandes preocupações no momento é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). “Porque o Fundeb é responsável por R$ 6 de cada R$ 10 que a escola recebe. 80% dos nossos municípios usam o Fundeb para pagar o salário dos professores. O fundo só existe, porque existe a vinculação dos recursos para educação. Ou seja, o prefeito, o governador, o governo federal e o presidente da República são obrigados a pegar o percentual dos nossos impostos e segurar para usar só em saúde e só em educação. E uma parte desses impostos é o que sustenta o Fundeb”, destacou.
Para o professor, o governo precisa achar uma solução diferente porque “toda vez que a gente pergunta como nós vamos negociar o auxílio emergencial, ele vem com a mesma resposta: tirar dos recursos de educação e saúde ou tirar dos servidores públicos, que são classe média”.
E continuou: “A gente não ouve o governo falar que temporariaente vai tributar os lucros e dividendos, ou que vai aumentar o imposto de renda dos brasileiros que ganham mais de R$ 160 mil por mês, que são 0,2% da população. Que não vão deixar de usar o helicóptero se cobrarem 9% do imposto de renda que é de 6%, e que vão gerar uma arrecadação de R$ 160 bilhões por ano. Essa pessoa continuaria tendo o mesmo padrão de consumo e conforto que ela tem hoje. Então, na verdade, a gente não tem coragem de pedir para a elite que entre com sua responsabilidade em um momento de crise como esta”.
Servidor público
Além da saúde e da educação, segundo Israel, a PEC pode prejudicar o servidor público. A PEC, explicou, vem com uma ideia central que é permitir, que em determinadas condições fiscais, o servidor público tenha a jornada de trabalho reduzida em 25%, e o rendimento, salário, reduzido a 25%. Assim, os servidores públicos pagariam a conta pela crise fiscal, pontuou. “É uma PEC muito prejudicial, ela vem e suspendeu os concursos públicos, ela não permite a abertura de novas vagas. Ela também suspende reajustes salariais, nós sabemos que não há reajustes há um bom tempo. E sem esses reajustes, o reajuste que eu falo é de não permitir que você eleve o salário e acompanhe a inflação do ano”.
O deputado ressaltou ainda, na entrevista, que o Brasil só desvinculou recursos de educação e saúde em dois momentos da história. Em duas constituições, na de 1937 e na de 1967. “Essas são constituições que embasaram duas ditaduras. A de 1937 é a Constituição do Estado Novo, a ditadura sangrenta de Getulio Vargas; e a de 1967, que foi a que legalizou o regime militar no Brasil. Então, essa decisão do governo de apoiar a desvinculação é uma demonstração de que esse é um governo que tem viés autoritário muito forte na sua origem genética praticamente. Isso preocupa bastante”.
Volta às aulas
Professor Israel aproveitou para comentar sobre a situação do Brasil em relação ao retorno às aulas em meio à pandemia do novo coronavírus. Para ele, se o país tivesse fechado tudo e dado prioridade para a reabertura das escolas, seria possível retomar o ensino presencial. “Mas o Brasil fez uma opção errada, o Brasil deu prioridade aos bares, restaurantes. O Brasil deu prioridade a outras coisas, e não a escola. Porque abrir tudo não dá, você tem que escolher o que fechar, se não tem uma crise descontrolada”, opinou.
Para mudar esse cenário, Israel disse que a solução viria acompanhada das doses de vacina contra covid-19, com os professores se tornando prioridade e sendo vacinados rapidamente. “Se isso é prioridade, os professores precisam estar no grupo prioritário, tem que avançar do grupo 4 para 1 e 2. O ministro (Eduardo) Pazuello atendeu nosso pedido e anunciou que iria antecipar a vacinação dos professores assim que houvesse doses”.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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